Práticas para arruar políticas

Texto e imagens por Arruar Zine

Com o mote “práticas para arruar políticas”, a chamada a esta edição de Arruar zine foi lançada às vésperas das eleições presidenciais que definiriam os rumos do Brasil e da democracia nos próximos anos. Lançar esta convocação naquele momento, vinha quase como um soluço, um grito engasgado, tenso mas buscando colar  ao desejo compartilhado por tantas e tantos de nós mais algumas fagulhas de esperançar, de acreditar que juntes encontramos potência para pensar, sentir, fazer, vislumbrar caminhos e ações – aqui desejados como arruares – diversos enquanto práticas políticas e transformadores de territórios existenciais.

A vitória na macropolítica nos deu um alento, produziu leveza, sentimos que ganhamos tempo, um espaço de respiro entre caixotes para quem sabe sermos capazes de escolher como nadar, mesmo que ainda sem direção precisa, neste mar revolto que se tornou a vida contemporânea. Nada garantido, nenhum chão firme sobre o qual pisar, não há ingenuidade aqui. Se as urgências do presente dão sinais cada vez mais evidentes de que não há tempo a perder, urge igualmente aprender a cultivar um tempo que é preciso ganhar.

No primeiro volume de Arruar, cuja chamada foi lançada ainda em 2021, ao buscar dilatar um tempo de desejo de futuro num contexto pandêmico e de fascismo institucionalizado, nos perguntamos “quando tudo isso acabar…” Sabíamos e sabemos que “tudo isso acabar” tem muitos sentidos, não se esgota, e não acaba. Nas permanências e transformações possíveis, no caminhar retomado, na aglomeração reconquistada, no amor renovado, práticas e políticas se reencontraram e seguem inventando encontros no fazer rua, no estar na rua, no arruar. 

Os trabalhos desta edição respondem à provocação sobre como operar nas zonas de conflito que constituem o espaço público em suas variadas modulações e meios – o espaço público urbano, o espaço público da política, o espaço público informacional – através de práticas comunitárias de resistência, ativismos, pesquisas, ensaios e intervenções poéticas. Constituem múltiplos modos de ação e reflexão que amplificam o campo narrativo, ora sobre o presente, ora dizendo passado sob outros olhares, e de algum modo produzindo futuros que se entrelaçam ou afastam e por vezes colidem, fazendo da linguagem uma dança, um movimento cujas implicações micropolíticas se disseminam por modos de fazer-com, fazer-junto, fazer-nas-frestas. Falam de arruares enquanto horizontes de potencialização da vida e de políticas como criação de proximidades, como cotidianidade necessária à abertura das possibilidades de reinvenção de nós e de mundo.

A rua entra na equação como verbo, descolando-se de suas formas cristalizadas para sinalizar as potências da mistura, da coexistência, da rasura, da viração e da construção permanente da vida coletiva e da própria cidade. Chegue mais, junte-se às pequenas multidões, co-mova-se com as lutas e com as táticas cotidianas dos corpos anônimos, compartilhe as memórias, atente-se às nuances que ora se deslindam, saltando do invisível ao visível, arruemos pelas práticas algumas políticas do porvir.

*Fotografias feitas na oficina “Práticas para arruar políticas” no âmbito do 14º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, ocorrido na Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI-UERJ) entre 26 e 29 de outubro de 2022.

Editorial por:

Gabriel Schvarsberg, Paula de Oliveira Camargo, Fabiana Duffrayer e Gabriel de Assis.

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