Corpos Imperiais

Texto por Alline Margarette da Mota Serpa

Corpos Imperiais é uma reflexão crítica sobre o modo de produção e estruturação do espaço urbano de Petrópolis sob a perspectiva do corpo, especialmente no comum ato de caminhar. Trata-se de um vídeo-provocação advindo da pesquisa de doutorado em urbanismo no âmbito do PROURB/UFRJ com o título “Caminhar-Performance: Uma lente crítica sobre a produção do espaço de Petrópolis, RJ”, finalizada em 2022.

A composição audiovisual busca reunir duas faces de uma cidade: aquela construída para o mundo, projetada para um embraquecimento imperial que se alinhasse às necessidades do capital, e a outra que se impõe nos espaços possíveis, residuais, resistentes – as favelas. Amplamente vendido ao turismo, o espaço urbano petropolitano vem se organizando a partir da racionalidade hegemônica e seus modos em atualização cuja constituição histórica se mostra potente para uma percepção dos espaços simbólicos estruturados com forte viés elitista, evidenciando um corpo moldado ao mercado, ritmado pelas batidas da ordem nas áreas centrais e fotografáveis, e um outro corpo que pulsa em música, dança, esporte quando ocupa as ruelas dos morros, os barracos com caixa de som, o baile funk e as trilhas que ligam os bairros. O corpo disciplinado no centro tem contornos distintos do corpo da periferia porque, quando o segundo se afasta da vigilância e dos interesses capitalistas, ele ganha condições de expansão a partir da própria necessidade de adaptação.

O corpo nos espaços coletivos podem assumir formas distintas porque o próprio coletivo está em disputa: sua forma, conteúdo e significado estão, cada vez mais, em alta cotação. A prática política do corpo em sua significação [quem está ou não está, onde está, o que faz, o que representa] é o objeto central dessa criação, pois que busca propor, num arquivo, as performances possíveis e suas camadas sociais validadas pelo Estado, pelo mercado e pela sociedade em cada lugar. Ele arrua porque carrega seus acúmulos por onde passa, leva a favela pro asfalto, leva o asfalto pra favela, constituindo uma cidade plural onde é possível, onde o controle falha.

Sobre a autora:

Alline Serpa é Arquiteta e Urbanista, mestre em Engenharia Urbana e Doutora em Urbanismo (UFRJ), e atua como docente e pesquisadora na graduação da Universidade Católica de Petrópolis. Como prática social e política, pedala pela cidade e articula com a sociedade civil organizada possibilidades para uma outra Petrópolis.

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