Coriolis

Vídeo e texto por Amanda Rosetti, Frederico Araujo e Pedro de Albuquerque

imagens do dentro, das trancas que confinam o dentro. sons mecânicos traspassam paredes. de lá, de cá, palavras lampejam vazias. da janela, os mesmos olhares à mesma paisagem, cada dia outra. cotidianos modos desses tempos, ponderou. tempos (des)medidos. fronteiras do (im)possível. rebeldias partilhadas: gritar à morte. cerrar o punho. cantar rasgado. respirar bater xingar dançar! acolher aliançar inventar amores (?). desejo de dizer desejo de dizer desejo de dizer desejo de dizer desejo de dizer desejo de dizer desejo de dizer desejo de dizer desejo… sem palavras. cómo no hablar? no sé, no sabemos. coriolis não propõe, não afirma, nem mesmo. comenta-se em maria da graça que apenas gagueja improváveis imagens rasgadas por sons labirínticos. liherbert consultou no goole o significado. não assistiu. não tô nem aí pra isso, 300 mil mortos cara!!!!! quando todos dormiam, heleninha tentou. maria alice, a cabeleira vermelha encaracolada, saiu apressada logo depois.

[e/ou]

as trancas confinam imagens

onde dentro e fora

perdem-se entre paredes

e rangidos mecânicos

as janelas marcam os dias,

nos mesmos olhares e cotidianos

respirar bater xingar cantar dançar

acolher chorar aliançar sentir desconhecer

desejo de dizer o desejo desejo

de dizer o desejo de dizer desejo

de dizer desejo de dizer desejo

de dizer desejo de dizer desejo …

a fala se perde em imagens

tão óbvias que se tornam improváveis

num descuido, são rasgadas por ele,

o significado.

não, ele não assistiu

[e/ou]

As agruras de viver o urbano em sociedades opressivas e racializadas como a brasileira, exacerbou-se brutalmente com o caos sanitário, social e político pelo qual passa o país.  O isolamento social que se impôs pela pandemia, sem outra alternativa que a vacinação ampla da população, agride corpos e mentes. Coriolis, o audiovisual que aqui apresentamos, surge nesse contexto como um grito, um lamento, um punho cerrado, um desejo de vida, de ar. Não propõe, não afirma. Gagueja através de improváveis imagens rasgadas por sons labirínticos, na intenção do afeto transformador.  

***

Sobre os autores:

Amanda Rosetti, carioca, 29 anos. É graduada em Comunicação Visual e Design pela UFRJ. Há cerca de 5 anos constrói experiências como designer de produtos digitais.

Pedro de Albuquerque (1976) é músico, contrabaixista, doutorando pelo PPG em Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dedica-se a sondar a escuta a partir de práticas sonoro-musicais. Possibilidades para um pensar/fazer musical que alia educação e filosofia; outro modo de pensar (fazer) filosofia e fazer (pensar) música.

Frederico Araujo é professor no PPGPUR/IPPUR/UFRJ, onde coordena o Grupo de Pesquisa Modernidade e Cultura (GPMC). Com os parceiros desse Grupo tem se dedicado a inventar formas e modos de criação e expressão que transitem sem privilégios entre ciência, filosofia e arte.

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